Em seu discurso de posse como membro do Conselho Municipal de Cultura, na cidade de Bom Jesus do Itabapoana, em 1985, é o próprio Elicio quem nos conta um pouco de sua história:
[...] não sou acadêmico e não tenho nenhum curso superior, apenas tenho a quarta série primária, mas herdei dos meus antepassados uma cultura nata, pois eles foram jornalistas, escritores, pintores paisagistas, versificadores, destacando-se o Comendador Joaquim Prudêncio Bessa, meu bisavô materno, fundador da Imprensa Campista, que recebera diversas condecorações do Império Português pelos serviços prestados à terra Goitacá.
Joaquim Prudêncio Bessa, viera para o Brasil com 12 anos de idade, entrando para o comércio, trabalhando de dia e estudando à noite, formou-se em Advocacia, sendo Promotor da Comarca de Campos e de São João da Barra.
Quero também exaltar o solicitador Gustavo Aurelio Bessa, meu avô materno, com o curso de Bacharel em Direito, que fora também jornalista e prosador.
É por isso [...] que nasci poeta, ator e pesquisador dos grandes vultos da antiguidade.
Nascido em Campos, em 10 de novembro de 1915, Elicio Freitas passou a viver em Bom Jesus do Itabapoana na década de 1960, tendo recebido o título de cidadão bonjesuense durante a festa da cidade, em 15 de agosto de 1986. Sua relação afetiva com a terra natal e a terra que depois o acolheu influenciou fortemente seus escritos, recordações e poemas, cantando em versos suas paisagens, seus rios, suas histórias e lendas.
CAMPOS DOS GOYTACAZES
Seus pais, Basilio de Freitas Salles e Adalgisa Bessa Salles, foram criados e vividos no interior do município de Campos. Elicio Freitas, nessa cidade, estudou o primário no Grupo Escolar Visconde do Rio Branco, tendo depois trabalhado como tipógrafo no jornal "O Dia". Já morando em Bom Jesus, costumava visitar a cidade natal, fonte constante de inspiração. Nessas ocasiões, muitas vezes declamava poemas aos conhecidos em locais públicos.
Nos campos de batalha um paladino.
Tu és também aqui da minha terra
LEMBRANÇAS DE MINHA TERRA
O Guindaste
Nas margens do Paraíba, próximo à rua do Braga existiu um guindaste pertencente à "INDUSTRIAL CAMPISTA" digamos nós, Fábrica de Tecidos.Vinham de lugares longínquos grandes canoas acossadas pelas marolas deste rio, trazendo lenha para abastecer a fábrica.
Este guindaste com o seu corpo da forma de um tonel com poderosas alavancas, girava ora para a esquerda, ora para a direita, com um longo pescoço com um bico da ponta semelhante a um gancho, desciam quatro correntes com um gancho nas pontas, atracado com uma pequena grade arreando nas canoas.
Os canoeiros o enchiam de lenha suspendendo-o e girando colocava em um trol que o levava para dentro da Fábrica de Tecidos.
Eu ficava horas a fio a contemplar aquele movimento que enchiam de novidades de minhas ilusões infantis, cheia de fantasia.
As Barriquinhas
Era muito comum em Campos, os vendedores de sorvete batido a mão.Saborosos sorvetes de Abacaxi carregado com barriquinhas vendidos em casquinhas, essas barriquinhas os vendedores traziam na cabeça forrada com uma rodilha de pano.
A cantarolar sob um sol (ilegível) esta cantiga:
"Quando eu passo nesta rua
Os cabelos me arrepia
As morenas vão dizendo
Sorveteiro de arrilia"
Sorve Iaiá... É de Abacaxi ... !"
Eu trago nos meus ouvidos aquele timbre das vozes dos antigos vendedores de sorvete.
Muitos que aqui existem saborearam aquela delícia que chamava Sorvete de Abacaxi batido a mão.
BOM JESUS DO ITABAPOANA
Durante muitos anos, Elicio Freitas trabalhou na Estação Rodoviária de Bom Jesus com comércio de livros, revistas e jornais, em um ambiente de letras perfeito para seu envolvimento com os versos, as leituras e as declamações.
Veneração
Píndaro, Píndaro, inspira-me agora!
A louvar este hino a esta terra,
Quero cantar pelos rincões afora,
As belezas perenes que ela encerra.
Quero cantar os alcantis da serra,
Nos esplendores deste sol que doura.
As águas deste rio que descerra,
Entre os vergeis da perfumada aurora.
Píndaro, Píndaro, magistral poeta!
Ilumina-me agora nesta oferta,
Jorrando nos meus veros a tua luz.
Eu te venero, Píndaro e te respeito!
Guardando a tua lira no meu peito,
Para cantar um hino a Bom Jesus.
Verão Verde
Chegou o verão. As chuvas eram permanentes, enchendo os valões, avolumando os rios.
As enegrecidas pedreiras se faziam chorosas como se fossem estátuas emudecidas, derramando lágrimas sobre as suas imaginárias vestes.
"Serei Homero?" - Elicio fazia a entrega diária de jornais em diversas localidades, percorrendo vários quilômetros no trajeto de Bom Jesus a Campos. Nessa caminhada o pensamento voava em constante reflexão e inspiração, tendo publicado em jornais suas sensações e memórias desses momentos, como em sua bela crônica "Serei Homero?", publicada em 1981, no jornal O Norte Fluminense e já comentada nesse blog ( http://espacoculturallucianobastos.blogspot.com/2014/09/elicio-freitas-um-poeta-popular-serei.html ).
APRESENTAÇÕES, DECLAMAÇÕES E DESFILES
Templo de sábios, abrigo sobranceiro,
Salão de Arte, Partenon de glória.
Elicio também fez incursões pela literatura de cordel, utilizando geralmente temas da região:
- "A história do rola-pau contada por Mãe Dolores", publicada pela Divisão de Folclore da Secretaria de Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, em 1977, narra uma história envolvendo personagens conhecidos de Bom Jesus (veja mais em: http://espacoculturallucianobastos.blogspot.com/2014/09/a-historia-do-rola-pau-contada-por-mae.html )
- "Curunkango, o rei dos escravos (uma história de Macaé)"
- "Mota Coqueiro (o martírio de um fazendeiro)";
- "Mundo Cão"
Visite outras publicações sobre Elicio Freitas nesse blog:
Elicio Freitas, um poeta popular: "Serei Homero"?http://espacoculturallucianobastos.blogspot.com/2014/09/elicio-freitas-um-poeta-popular-serei.html
http://espacoculturallucianobastos.blogspot.com/2014/09/a-historia-do-rola-pau-contada-por-mae.html
http://espacoculturallucianobastos.blogspot.com/2012/01/boi-pintadinho-em-bom-jesus-uma.html
Veja também em outras mídias:
Resgate de Elicio Freitas: http://onortefluminense.blogspot.com/2017/05/resgate-do-poeta-elicio-de-freitas.html
Fonte de pesquisa: Álbum de Elicio Freitas, contendo fotografias, recortes de jornais, poemas, literatura de cordel e textos de Elicio Freitas Salles. Acervo: Espaço Cultural Luciano Bastos.
Pesquisa e texto: Paula Borges Bastos
É permitida a reprodução do conteúdo deste blog em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.
Atualizado em: 28/08/2020