sexta-feira, 6 de abril de 2018

Waldelia Couto: ex-aluna do Ginásio Rio Branco

      Waldelia Couto: ex-aluna do Ginásio Rio Branco (1951-1954 / 1958-1961)


Waldelia Couto, nascida em Bom Jesus no dia 18 de abril de 1938, é filha do alfaiate Waldemar da Silva Moço e de Magnolia Couto. Trabalhou no comércio e se aposentou como comerciante. Viúva, tem uma filha, a professora e policial Maria Angélica Couto. 

Hoje, Waldelia mora numa aprazível residência onde cuida com carinho de suas plantas e animais. É ali que ela nos recebe e relembra, com saudade e emoção, o período em que estudou no Ginásio Rio Branco. Era 1951, a mãe havia falecido precocemente, estudava o 1º semestre no internato do Colégio de Muqui, ES, e o pai decidiu matriculá-la no Rio Branco, onde permaneceu até 1954, retornando em 1958 para o Curso Técnico em Contabilidade, concluído em 1961.

ECLB: Onde fez o curso primário?
WaldeliaIniciei o curso primário com d. Mariquinha Baptista, irmã de d. Carmita, muito rigorosa. Minha lembrança mais antiga são as redações, que iniciavam sempre assim: "Vejo um quadro...". Os quadros na parede eram ilustrados com figuras como: uma menina num lago, flores e animais.

ECLB: Quais são as melhores recordações que tem do Ginásio Rio Branco? 

Waldélia: Lembro-me com saudades da nossa turma do ginásio, bem agitada, das aulas na sala de vidro. Entrávamos na escola, as meninas por um lado, meninos pelo outro. Nosso uniforme era blusa branca, de manga curta, com laço azul; a saia era azul, reta nos quadris, duas pregas e comprimento até o joelho. Além das matérias tradicionais, havia aulas de francês, latim e canto orfeônico.



ECLB: Como eram as aulas de Educação Física?
Waldelia: Chegávamos cedinho e descíamos para o pátio, sentando na escada, aguardando quietinhos a professora, d. Judith Arantes, pois não podíamos ficar andando livres pelo pátio. Nosso uniforme era uma blusa de tecido e bombacha. Ao terminar a aula, íamos para casa tomar banho, café, e retornávamos para as aulas.
Quando se aproximavam as comemorações do 7 de Setembro, D. Judith treinava as apresentações de ginástica rítmica e dança. No dia do desfile tínhamos que marchar muito bem pelas ruas, e ao terminar, havia concentração em frente ao Ginásio, com apresentações cívicas. Uma colega, Olívia, sempre cantava nessas ocasiões. 


ECLB: Quem eram os seus professores do curso ginasial?

Waldelia: A professora de Francês era Solange, filha do dr. Colombino Teixeira. Sempre gostei muito de línguas, por isso meu pai pagava aula particular com o professor Orlando Azeredo, que havia sido diretor do Instituto Euclides da Cunha. Lembro de D. Solange lendo Ovídio em francês para nós. Iniciávamos as aulas cantando o Hino da França. Mais tarde, tive também aulas de francês com dr. Helio.

O professor Deosdeth foi o responsável pelo meu interesse em Geografia, ele tinha um método agradável de ensinar. Eu adorava suas aulas, estudar no mapa mundi todas as capitais do mundo, os rios e seus afluentes. 


D. Carmita era nossa Diretora e, ao mesmo tempo, professora de História. Os alunos tinham que trazer, no dia seguinte à aula, um questionário sobre o tema dado. Se não soubesse no dia seguinte, ela rasgava os escritos, e tinha que escrever de novo. 

Dr. Chiquinho era o professor de Português e de Matemática e costumava me chamar para escrever no quadro negro, pois eu tinha uma letra muito bonita. Mas um dia escrevi algo errado e quando ele bateu na porta de vidro irritado cheguei a estremecer; a partir desse dia, não quis mais ir ao quadro negro. 

D. Sally Wanderley era a professora de Canto Orfeônico. Lembro até hoje uma das músicas que cantávamos: “Vento que balança as palhas do coqueiro...” Nas reuniões do Grêmio, havia muitas apresentações musicais e declamações, feitas na sala principal do Ginásio - onde hoje é a biblioteca do ECLB. Lembro muito de uma colega que se apresentava cantando músicas italianas, como “Santa Lucia”. No final do ano, havia a temida prova oral, D. Sally soprava o diapasão e o aluno tinha que cantar afinado; e na prova escrita, havia ditado, e biografia dos músicos. 

Dr. Helio, professor de Latim. Ao entrar na sala, subia no tablado onde estava a mesa, e sempre ajeitava a gravata antes de assinar o ponto. 

Maria Stella Valinho era professora de Trabalhos manuais e Yolanda Ferolla era professora de Desenho. D. Nilza Paris Scott (esposa de Aurélio Damião) era professora de Matemática e Trabalhos manuais. 

ECLB: Lembra-se de outros funcionários do Rio Branco?
Waldelia: Lembro de D. Ruth Fragoso Silveira na Secretaria. Lembro também de Eli, o funcionário da limpeza, que estava sempre passando o pano no chão de madeira, deixando-o clarinho; era muito requisitado por d. Carmita. Não poderia deixar de citar os temidos Chefes de Disciplina: d. Lenita e sr. Rosendo.

ECLB: Pode apontar alguns colegas da época em que estudou?
Waldélia: Dentre os colegas de ginásio e comércio, relembroCelia Lumbreras, Maria Alexandrina Bastos, Aldany Ferreira, Celma Alves, Julia Moreira, Clair Ribeiro (filha do Pastor Ribeiro, da Igreja Batista) e Afonso Rezende. No curso Técnico de Contabilidade, Izany Baptista e Pepita (Josefa Hernandes, sobrinha do pai de Tino Marcos) e Fernando Osório (filho de Osório Carneiro).


Waldelia: formatura do curso ginasial em 1954


ECLB : Você se lembra de algum fato pitoresco de sua época de estudante no Rio Branco? 

Waldelia: Me lembro de alguns fatos da época de ginásio. Nas aulas de educação física, quando jogávamos uns contra os outros, não era permitido comemorar alto, sob o risco de levar castigo. Num dia em que fizemos muita algazarra, o chefe de disciplina, sr. Rozendo, reuniu os alunos e deu uma longa lição de moral. Ouvimos todos quietos. Quando ele terminou, alguns meninos não resistiram e gritaram em coro: “Ah, ah, ah”. 



Num dia de arguição com Dr. Helio, professor de Latim, valendo nota, comentei com o colega Wanderley que não estava preparada. Ele me disse para não se preocupar, virou para o professor e disse: “Dr. Helio, eu não acredito em Deus!” – ele, católico praticante, ficou horrorizado e iniciou uma lição sobre o assunto, o tempo passou, e... não houve arguição. 


Durante uma aula de trabalhos manuais com D. Nilza Paris Scott (esposa de Aurélio Damião), estávamos todas bordando, em silêncio. De repente, uma das colegas começou a cantarolar baixinho. D. Nilza logo perguntou “Quem está cantando?” A turma gelou. Era a colega Yeda, que se levantou, admitiu ter sido ela e levou "bronca". 

ECLB: Onde estudou após terminar o ginásio?
Waldelia: Após o curso ginasial no Rio Branco fiz o Curso Científico no Colégio de Calçado, lá deixei boas amizades.

Waldelia e colegas do curso Científico no Colégio de Calçado

ECLB: Entrou logo depois do Científico para o Rio Branco?
Waldelia:  Não imediatamente. Após me formar em Calçado, consegui meu primeiro emprego no Colégio Zelia Gisner, de Adelia Bifano. Registrava notas, entregava diários de classe e cadernetas; além disso, vários professores pediam para datilografar trabalhos em casa, pois escrevia muito bem.
Um dia, encontrei com Boanerges Silveira, pai de Roberto Silveira, pedi e ele conseguiu uma bolsa de estudos para o Ginásio Rio Branco. Passei então a trabalhar e paralelamente frequentar o curso noturno de Técnico de Contabilidade, e me formei em 1961.




ECLB: Conte um pouco sobre a sua vida profissional.
Waldelia: Aos 18 anos passei a trabalhar na Gráfica Gutenberg, com carteira assinada, onde permaneci cerca de três anos. Aprendi com os 
irmãos Esio e Luciano Bastos, a ser organizada e disciplinada, eram muito exigentes e honestos; sempre ajudavam os funcionários quando eles precisavam. Todas as noções relativas ao comércio aprendi com eles.
Quando o gerente, sr. Joaquim Gonçalves (tio de Celso Pedrosa) foi embora, passei a realizar mais funções, ajudando a atender viajantes, separar a mercadoria que chegava e organizar os produtos nas prateleiras de acordo com as seções: brinquedos, material escolar, prata, ouro, lingerie (marca Etan e Valisere), presentes.
A grande marca de cosméticos da época, Helena Rubenstein, mandava algumas vezes uma representante para fazer demonstração dos produtos de maquiagem, muito apreciada pelas freguesas.

Gráfica Gutenberg: anúncio em jornal de 1961

Lembro de um fato interessante: um dia veio um fiscal de Itaperuna, e após o serviço permaneceu muito tempo na loja, sem pressa de ir embora. Aproveitei e vendi um piano para ele.


Quando saí da Gráfica, fui convidada para trabalhar como contadora no antigo Armazém do José Bastos. Não me adaptava ao escritório, pois era junto com o atacado, sempre cheio de sacos de cebola e batata. Sugeri a José Bastos a venda de roupas e ele achou que era viável. E lá fui eu para a minha primeira compra em São Paulo, acompanhando d. Ceni, uma senhora de Itaperuna. As vendas foram um sucesso. Separou-se então um espaço no Armazém para a venda de roupas, com uma porta dando para a rua José Eid.

Mais tarde, passei a trabalhar por conta própria, vendendo roupas em minha própria casa. Contando com o auxílio das amigas Eunice e Terezinha Almeida, que ajudaram na propaganda, e com muita dedicação ao negócio, as vendas foram um sucesso. Depois abri uma loja em frente à minha casa: a "Loja da Waldelia", que vendia presentes em geral: bijuterias, louça,  roupas, brinquedos... Foi a primeira loja de Bom Jesus a ter vitrine de vidro - de noite as pessoas até paravam para admirar.


ECLB: Gostaria de deixar aqui registrado alguma mensagem para os ex-alunos ou para o ECLB?


Waldelia: Agradeço a vocês por terem lembrado de mim, e aos meus queridos colegas mando saudades daquele tempo, que apesar de tudo foi o mais feliz da minha vida.


O Colégio Rio Branco foi fundado em 1920 e encerrou suas atividades em 2010, após noventa anos de atividades educacionais. O Espaço Cultural Luciano Bastos busca preservar a história e a memória do Colégio Rio Branco e de Bom Jesus do Itabapoana. Foto: Mapa de Cultura do Rio de Janeiro / Diadorim Ideias













        



terça-feira, 3 de abril de 2018

Padre Mello é o tema de Mesa redonda no ECLB

Padre Mello (27/04/1863 - 13/08/1947)


Em homenagem aos 155 anos de nascimento do Padre Antonio Francisco de Mello, no dia 02 de abril, o Centro de Estudos Portugueses Antonio Ignacio da Silveira realizou, no Espaço Cultural Luciano Bastos, uma mesa redonda a fim de promover uma reflexão sobre a vida do sacerdote açoriano, apresentando e discutindo questões sobre aquele que, durante cerca de cinquenta anos, viveu entre nós.

A mesa-redonda foi mediada pela dra. Nísia Campos, presidente do ILA, tendo como convidados, o Ir. Ederaldo do Carmo, sobrinho-neto do homenageado, e o pesquisador dr. Antonio Soares Borges. Participaram da mesa dr. Gino M. Borges Bastos, diretor do jornal O Norte Fluminense, dr. Sebastião Freire Rodrigues e dra. Lucília Stanzani.

Ir. Ederaldo do Carmo, sobrinho-neto de Padre Mello, dra. Lucília Stanzani, dr. Gino M. Borges Bastos, dra. Nísia Campos e dr. Antonio Soares Borges.


O pesquisador Antonio Soares Borges doou ao ECLB manuscritos do padre açoriano, onde está relatada a história de Bom Jesus do Itabapoana.


Dr. Sebastião Freire Rodrigues

Momento de emoção: Ir. Ederaldo trouxe o teodolito com que Pe. Mello realizava as medições de terra da região, doando-o ao ECLB.




Ao final, foi lançada a segunda edição do livro Obras Selecionadas de Padre Mello, da Editora O Norte Fluminense. 

O livro é o sexto volume da Coleção Literatura Bonjesuense



A Escola de Música JEMAJ, dirigida por Anízia Pimentel, apresentou lindas canções portuguesas durante o evento.










segunda-feira, 2 de abril de 2018

Exposição "Padre Mello, um Gênio da Civilização e da Cultura" é inaugurada no ECLB






Com o objetivo de celebrar os 155 anos de nascimento do Padre Antonio Francisco de Mello, foi inaugurada hoje, no Espaço Cultural Luciano Bastos, a exposição temporária Padre Mello, um Gênio da Civilização e da Cultura, organizada pelo Centro de Estudos Portugueses Antonio Ignacio da Silveira, dando início ao projeto Abril: Mês de Padre Mello - Uma Festa Portuguesa com Certeza.

Açoriano e bonjesuense de coração, Padre Mello (27/04/1863 - 13/08/1947) foi vigário em Bom Jesus do Itabapoana por quase 50 anos (1899 a 1947) e teve grande papel no desenvolvimento de nossa terra.

Para o ECLB é motivo de alegria receber essa mostra, uma vez que, além de Professor de latim do Ginásio Rio Branco, aqui foi também o local onde residiu, em 1911. É o que nos conta o historiador Antonio de Souza Dutra: 

Em 1911 (...) no Largo Santa Rita existia apenas o prédio que é hoje o Ginásio Rio Branco, que fôra construido por José Carlos Campos para sua residência e era então ocupado pelo Padre Mello, que ali morava em companhia da velha d. Cândida, sua tia, e de d. Mariquinhas, sua irmã”.


Dr. Gino Bastos, representando o jornal O Norte Fluminense e o Centro de Estudos Portugueses, organizador do evento.


Dr. Gino Bastos e Dra. Nísia Campos, ex-aluna e professora do Colégio Rio Branco, presidente do ILA. Anísia Pimentel e músicos da JEMAJ prestigiaram o evento. 




Jornalista Jailton da Penha

Ex-aluno e professor do Ginásio Rio Branco, Dr. Sebastião Freire Rodrigues entrega ao Dr. Gino Bastos um banner alusivo ao livro que lançou, de Delton de Mattos, sobre o homenageado.
 



Dr. Sebastião Freire Rodrigues doa um exemplar de livro sobre Padre Mello a Claudia Bastos, diretora do Espaço Cultural Luciano Bastos






















Público presente tendo ao centro o Ir. Ederaldo do Carmo, ex-aluno do Colégio Rio Branco.





Além de mapa histórico de Bom Jesus do Itabapoana (15.03.1940),  a mostra reúne jornais e exemplares raros de livros da autoria do padre agrimensor e escritor (que fazem parte do acervo do ECLB) e outros objetos ligados a sua vida.


Mapa do Município foi feito por Padre Mello. 15/03/1940.
Acervo ECLB. Doação: Elcio Xavier.



















         
Livros escritos pelo sacerdote. Acervo ECLB.




O ECLB parabeniza a todos os envolvidos na iniciativa do evento. Certamente, depois de visitar a exposição, saímos com a curiosidade e interesse redobrados sobre esse Patrimônio bonjesuense.



A exposição está aberta a toda a comunidade bonjesuense e visitantes, de terça a sexta, de 9h às 11h30min e de 13h às 16h30min.







       Padre Mello foi escritor, poeta, redator do jornal "Meu Campinho" e responsável pelos registros de propriedade em nossa região. Foi também músico e compositor, sendo o autor do hino do antigo Colégio Rio Branco. Além disso, era conhecedor de técnicas de engenharia e, em vista disso, construiu as duas torres da Igreja Matriz, e orientava na construção de prédios. Possuía, também, conhecimento dos métodos de plantação de café, razão pela qual promoveu a orientação no cultivo do mesmo. Foi, ainda, ativista político na luta pela segunda emancipação de nosso município, ocorrida em 1º/01/1939.  (Jornal O Norte Fluminense, 2016).