Encontro de Folia de Reis em Muqui, 2011.
Considerado o mais antigo do país, ocorrendo desde 1950, o evento reúne grupos de reisado fluminenses, capixabas e mineiros que, além de receberem a benção na Igreja, percorrem as ruas do centro histórico da cidade.
O reconhecimento da Folia de Reis do Estado do Rio de Janeiro como Patrimônio Imaterial Brasileiro está em estudo no IPHAN, que recebeu, em junho de 2016, o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) das Folias de Reis do Estado do Rio de Janeiro, realizado pelo Departamento Cultural (Decult) da UERJ, demonstrando a importância dessa manifestação cultural fluminense para nosso país (1)
40 ANOS ATRÁS: IV ENCONTRO DE FOLIAS DE REIS EM BOM JESUS DO ITABAPOANA
Em Bom Jesus do Itabapoana, a Folia de Reis sempre esteve presente junto à população, permanecendo na memória de seus moradores como uma das mais destacadas manifestações culturais da região (2).
Um desses momentos memoráveis nos remete a 40 anos atrás, quando Bom Jesus do Itabapoana (BJI) sediou o IV Encontro de Folias de Reis (3). O evento ocorreu nos jardins da Praça Governador Portela, em frente a Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, onde estava montado um presépio e um palanque. Ali se reuniram e apresentaram diversas Folias de Reis no dia 06 de janeiro de 1977.
Dentre os atos iniciais, o Mestre-Folião Sr. Fernando Amaral, pediu a todos "minuto de silêncio" em memória dos foliões já falecidos.
Em seguida as Folias de Reis se apresentaram, cantando e louvando o nascimento de Jesus e a visita dos Reis Magos. Depois foi a vez dos Palhaços realizarem suas décimas e malabarismos, numa alusão ao simbolismo relacionado com o Rei Herodes. As apresentações estiveram sob direção do Sr. Eneas da Silva Pinto, Coordenador da festividade.
A Classificação das Folias e Palhaços foi a seguinte:
FOLIAS DE REIS
1° lugar: Folia de Reis Nossa Senhora Aparecida, da Rua dos Mineiros (BJI), dirigida pelo Mestre-Folião Sr. Agenor Francisco Dias.
2° lugar: Folia de Reis Estrela do Oriente, da Rua Aristides Figueiredo (BJI), presidida pelo Sr. Norival Rita da Silva e dirigida pelo Mestre-Folião Sr. Dermindo Gomes da Silva.
3° lugar: Folia de Reis Sete Irmãos, de Itaperuna, presidida pelo Sr. Geraldo Gonçalves de Moraes e dirigida pelo Mestre-Folião Sr. Ademar Tots.
4° lugar: Folia de Reis São Sebastião, da Rua Gonçalves da Silva (BJI), presidida pelo Sr. Anizio Rosa e dirigida pelo Mestre-Folião Sr. Antonio Florencio da Rosa.
5° lugar: Folia de Reis Estrela do Oriente, de Iurú (Apiacá), dirigida pelo Mestre-Folião Sr. Waldemiro Ropne.
6° lugar: Folia de Reis do Monte Calvário (BJI), dirigida pelo Mestre-Folião Sr. João Gomes da Silva.
PALHAÇOS
1° lugar: Catapora, da Folia de Reis São Sebastião, BJI.
2° lugar: Pinga Fogo, da Folia de Reis Sete Irmãos, de Itaperuna.
3° lugar: Malagueta, da Folia de Reis Estrela do Oriente, de Iurú, Apiacá.
4° lugar: Pimentinha, da Folia de Reis Nossa Senhora Aparecida (BJI).
5° lugar: Sete Casaca, da Folia de Reis Sete Irmãos, de Itaperuna.
6° lugar: Pimenta, Folia de Reis Nossa Senhora Aparecida (BJI).
7° lugar: Pinga Fogo, da Folia de Reis Monte Calvário (BJI).
8° lugar: Beleza, da Folia de Reis Estrela do Oriente (BJI).
9° lugar: Riachão, da Folia de Reis São Sebastião (BJI).
A Comissão julgadora foi presidida pelo Major Enio Nascimento dos Reis, sendo o júri composto por: Sr. Rubens José Lopes, Sr. José Carvalho Mota, Dr. Marco Antonio Ribeiro Seródio, Sr. José Manoel Araújo, Sr. Reinaldo Pinto Dias, Prof. Francisco Gomes Sobrinho.
Além das Folias que se apresentaram, o evento contou também com a presença de representantes de Folias de diversos municípios fluminenses e capixabas e também de Minas Gerais, dentre os quais foram registrados:
- Elpidio Freitas (F.R. Nossa Senhora da Boa Morte, de Bonsucesso, Mimoso do Sul, ES)
- José Sprung Harlich (F.R. Nossa Senhora de Conceição do Muqui, ES)
- Aloizio Louzada Reis (F.R. Três Reis Magos, Alegre, ES)
- Joaquim Nunes (F.R. Santana, Duque de Caxias, RJ)
- Helio Jaury de Souza (F.R. Mestre Jesus, de Lins do Vasconcelos, Rio de Janeiro, RJ)
- Domingos Cabral das Neves (F.R. Estrela D'Alva, de Apiacá, ES)
- Alirio Cardoso dos Santos (F.R. Guaritá, de Itaperuna, RJ)
- Itamar Monteiro (F.R. Divino Mestre, de Muriaé, MG)
O evento foi organizado com o apoio do então Prefeito Noé Vargas e da Comissão Municipal de Cultura.
***
Em 1986, um bonjesuense publicava, através do Projeto Folias de Reis, um Cordel intitulado:
Capa de Cordel sobre a Folia de Reis, de autoria do bonjesuense Flávio Fernandes Moreira, o Poeta. Imagem: http://cibertecadecordel.com.br/pop_up.html?foto=arquivos/capas/5118.jpg
POESIA EM VERSO COM A ORIGEM DO REIZADO (4)
Autor: Flávio Fernandes Moreira, o Poeta
Com inspiração divina
Faço meu verso rimado
Levando ao meu leitor
O presente e o passado
Falando sobre os reis magos
E a origem do Reizado
[...]
Depois de muito viajarem
A estrela foi parando
Por cima de uma cabana
E os magos foram chegando
Com amor e com respeito
Foram se aproximando
[...]
Porque quero aproveitar
Esta mesma ocasião
Pra falar sobre o Reizado
E sobre o mestre fulião
Que é devoto aos três Magos
E cumpre sua missão
[...]
Alguém diz que é fulia
Mas na verdade é jornada
Eles relembram os três Magos
Naquela longa caminhada
Que procuraram e encontraram
A Santa Familia Sagrada
[...]
Vinte e cinco de dezembro
É o início da jornada
Dos três Reis do Oriente
Com a Família Sagrada
Até seis de janeiro
Reza várias embaixadas
[...]
Leitor vou terminar
Essa rima altaneira
Se quiseres mais detalhes
Desta obra verdadeira
Comunique-se com o poeta
Flávio Fernandes Moreira
Contra Capa do Cordel "Poesia em Verso com Origem do Reizado".
Flávio Fernandes Moreira, o Poeta
Flavio Fernandes Moreira, conhecido como Poeta, nasceu em Bom Jesus do Itabapoana, sendo que aos 19 anos já morava em Duque de Caxias, e trabalhava como motorista de ônibus.
Com 15 anos era palhaço de Folia de Reis e, aos poucos, foi se firmando como Mestre. Foi a Folia de Reis que levou Flávio a escrever "quando comecei a brincar de palhaço eu falava muitos livros de outros: Lampião, Antonio Silvino, Zé Pretinho, etc. Depois passei a fazer versos improvisados na hora, depois chegou a um ponto de só falar o que era meu. O passo seguinte foi escrever".(5) Daí nasceu o amor pelo Cordel, o que levou Flávio a escrever e publicar vários títulos, sendo sua produção reconhecida nacionalmente.(6)
Notas e Referências
(1) Departamento Cultural da UERJ conclui Inventário Nacional de Referências Culturais das Folias de Reis fluminenses. Publicações UERJ em Dia, 20 a 26 de junho de 2016: http://www.uerj.br/publicacoes/uerj_emdia/751/
(2) A Folia de Reis em Nossa Cultura:
(3) A descrição do evento, nome das Folias e ganhadores tem por base matéria publicada no jornal O Norte Fluminense, Ano XXXI, nº 1.295, de 16 de janeiro de 1977, Bom Jesus do Itabapoana, RJ.
(5) "O Cordel do Grande Rio", Rio de Janeiro, Secretaria Estadual de Educação e Cultura, Inelivro, 1978, apud Meyer, Marlyse, "Caminhos do Imaginário do Brasil", EDUSP, 2ª ed, 2001.
(3) O nome de Flávio Fernandes aparece em obras como "Retrato do Brasil em Cordel", de Mark J. Curran. Seu nome também é mencionado por outros cordelistas, como é o caso do "A Arte do Cordel" (conhecidos ou amigos / como Flavio Fernandes Moreira):