No mês de maio o ECLB foi palco do Circuito Difusão - 10ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos, exibindo seis filmes que abordam questões fundamentais, sob vários aspectos, para a cidadania. As sessões, gratuitas e com direito a suco e pipoca, atraíram um público diverso, mas com um ponto em comum: o interesse em refletir sobre temas pulsantes e fundamentais em nossa sociedade.
Alunos do Centro Educacional Santa Rita de Cássia assistem Félix, o Herói da Barra, no dia 04/05, em sessão escolar |
Essa é a segunda vez que o ECLB participa da difusão da Mostra, e em 2016, as sessões noturnas contaram com a participação especial de dois ex-alunos do Colégio Rio Branco para conduzir o debate após a exibição dos filmes.
10/05: Porque Temos Esperança |
12/05: O Muro é o Meio |
Nas sessões do "Curta às Quintas", a condução ficou a cargo do jornalista Pedro Salim Junior, com os filmes: O Abraço da Maré; O Muro é o Meio; O Outro Lado.
Como foi o evento? Com a palavra os debatedores:
Assim caminha a Humanidade
Pedro Salim Jr. |
Fique atento à programação do ECLB. Até a próxima!"
Pedro Salim - jornalista
Pedro Salim - jornalista
12/05: O Muro é o Meio |
19/05: Do meu Lado |
Rafael Ferreira Tardin:
Rafael Tardin |
03/05: Félix, o Herói da Barra |
Refletir sobre algo é sempre um movimento complexo. Flexionar sobre si (reflexão) é antes de tudo envolver-se. Não há como discutir relações humanas e não sentir-se alvo das discussões. Pensar, antes de tudo e acima de tudo é ato, movimento. Diante disso, pensar os filmes da Mostra de Cinema de Direitos Humanos é nos colocar diante de questões não somente enquanto meros expectadores e sim como indivíduos comprometidos com a práxis, com uma ação em resposta à tomada de ciência de tais problemas e desafios.
10/05: Porque Temos Esperança |
Memória e identidade. Temas que compuseram a “coluna vertebral” desse evento que, a meu ver, também se configurou como uma convocação a todos que ali se encontravam. Não diria que o evento se configurou como somente “um convite ao pensar”, pois aqui, a partir da iniciativa livre de se propor a refletir, o que se tem é um verdadeiro comprometimento com o que se vê e se percebe. Ter ciência do embate dos moradores da Barra do Aroeira, da jornada de Marli e da luta das avós da Praça de Maio implica em posicionar-se; implica numa mudança de postura diante das coisas. Conhecer tais histórias, mais do que um privilégio, é se colocar mediante o confronto entre o dito e o não dito; o revelado e o não revelado; a justiça e a injustiça . O que testemunhei e compartilhei nessas três semanas foi muito mais que exibições, foram olhares minuciosos sobre lutas, embates e vidas que anseiam por reconhecimento existencial, por uma construção livre de sua identidade e pelo direito a cidadania.
17/05: 500 - os bebês roubados da ditadura militar |
É preciso se (re)pensar a própria memória.
10/05: Porque Temos Esperança |
Enquanto receptáculo da identidade, a memória por sua vez necessita ser compartilhada e nisso a Mostra de Cinema de Direitos Humanos cumpre a mais bela das missões: permitir que a memória dos sobreviventes seja revelada às pessoas que fazem parte desse mundo e que desconhecem de tal conexão com as mesmas. Do outro lado da tela, o público que esteve presente no Espaço Cultural para assistir aos documentários e discuti-los se deparou com a possibilidade de ser agente transformador daquilo que impede tais histórias de chegarem às pessoas.
19/05: Do meu Lado |
A Mostra de Cinema de Direitos humanos agrega dois projetos reflexivos em um: pensar como o audiovisual (Cinema) pode nos levar para além de uma visão puramente intelectual sobre as coisas e pensar sobre os direitos humanos como algo que preza pela preservação da alteridade, elemento basilar na construção das relações humanas.
03/05: Félix, o Herói da Barra |
Enquanto audiovisual, o impacto não é meramente intelectual (racional), o que permite um envolvimento diferente com o que é apresentado. Esse envolvimento, conduzido pela emoção, culmina numa percepção sobre o cenário apresentado que perpassa a dimensão humana, promovendo dessa forma uma conexão que transcende tempo e espaço. Essa conexão alimenta a alteridade e pressupõe uma postura que se distingue do desprezo e indiferença em relação às lutas e os dramas vividos pelas pessoas (e não personagens) vistas na tela. O abalo que um documentário provoca é o da constatação de que aquilo que se vê não é ficção, ou seja, algo criado artificialmente que simula o real nos permitindo “brincar” de viver, provocando em nós reações que então são canalizadas em momentos da nossa própria realidade e não aqueles retratados na tela.
03/05: Félix, o Herói da Barra |
Assim sendo, os documentários nos apresentam vidas, existências que se enquadram no mesmo plano real que os espectadores, que então não se permitem “brincar” de viver num ambiente controlado, pois o ambiente é a própria realidade, fruto de ações e movimentos que na maioria das vezes escapam ao controle. No mundo real não é permitido “brincar” de viver. Quando o público se vê no mesmo plano daquele que está na tela, ele se assume como ator, cuja atuação pode ser no sentido de compactuar com o ocultamento daquela memória ou o contrário disso: aliar-se na luta pelo resgate da memória e da construção da própria identidade ao lado do povo da Barra do Aroeira, da Marli e das avós da Praça de Maio.
10/05: Porque Temos Esperança |
Trata-se de um recorte do real que desde já, em sua premissa mais básica, deixa claro que se trata de um projeto transformador: é preciso mostrar não para pura apreciação estética e sim para mudar. Enquanto outro projeto reflexivo, pensar os direitos humanos de uma forma que foge ao senso comum é admitir a luta e o embate como elemento essencial. Não se trata de uma luta que segrega direitos enaltecendo determinadas demandas em detrimento de outras, pelo contrário. O embate travado é sempre no intuito de exigir equidade, ou seja, a luta segue sempre na direção da alteridade como um “cuidar do outro como cuidar de si”. E novamente é possível analisar que, pensar a reconstrução das relações humanas por meio da luta pelos direitos humanos é uma questão Ética.
Ferir o preceito da equidade é um crime que transcende cenários locais. Para ser mais preciso transcende os limites físicos alcançando aquela dimensão inteligível onde habita a noção de humanidade, compreendida então como aquilo que comporta todos os seres humanos, sem distinção alguma. Crimes contra a humanidade ferem os direitos humanos e como tais pressupõem uma agressão a todos os humanos. Lutar por esses direitos é um processo duplo: ao lutar pelo direito do outro, na mesma medida, luto por mim mesmo. Os direitos pelos quais o povo da Barra do Aroeira, Marli e as avós da Praça de Maio lutam também são nossos. É por meio desses direitos que nos conectamos enquanto existências que anseiam a mesma coisa, e é nesse ponto que podemos ter um pequeno vislumbre da conexão que a palavra humanidade remete.
10/05: Porque Temos Esperança |
Participar de um ciclo de discussões sobre esses dois projetos reflexivos nos impele a mergulhar em dimensões radicalmente humanas. Longe de toda forma mecanizada de pensar que camufla a humanidade em nós por meio de um discurso técnico que se propõe enquanto detentor absoluto da verdade sobre o real.
Enquanto conexão desenvolvida nessas três semanas, afirmo com toda certeza que a história do povo da Barra do Aroeira, da Marli e das avós da Praça de Maio repercutiram em minha existência compondo desde então minha memória. Levo para o resto da minha vida a historia dessas pessoas e através do contato com elas a construção da minha identidade ganha um novo capitulo. Parabenizo ao Espaço Cultural pela iniciativa ao abrir suas portas e permitir que várias pessoas conhecessem essas grandes demonstrações de coragem e luta. Obrigado ao Espaço Cultural por compartilhar comigo esse momento tão especial."
Confira mais fotos do evento:
12/05: O Muro é o Meio |
17/05: 500 - Os bebês roubados da ditadura militar |
19/05: Do meu Lado |
13/05: Félix, o Herói da Barra |
O ECLB agradece a Pedro Salim Júnior e Rafael Ferreira Tardin, bem como a todos que estiveram conosco durante o Circuito Difusão, enriquecendo os debates e as reflexões.
Quer saber mais sobre os filmes apresentados? Confira:
http://espacoculturallucianobastos.blogspot.com.br/2016/04/10-mostra-cinema-e-direitos-humanos-em.html
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