quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

OS PRIMÓRDIOS DA IMPRENSA EM BOM JESUS

          


      Documentos antigos são uma fonte inesgotável de luz sobre o nosso passado. Para conhecer um pouco mais sobre o início da imprensa em Bom Jesus do Itabapoana, o texto abaixo, do jornal A Voz do Povo, de 04.02.1939, nos dá ricas informações:


IMPRENSA BONJESUENSE

       Quem teria fundado o primeiro jornal nesta terra de Bom Jesus?
          Eis aqui a pergunta que me fizeram, numa roda em que se falava sobre a imprensa local e os periódicos que aqui se publicaram; uns, de curta duração e outros de existência um pouco longa; todos, afinal, luctando tenazmente por se manterem, a despeito do indefectível apoio moral que "tout le monde et son pére” sempre tiveram para dar, (naquelles tempos já se vê) para emprestar e jogar fora...
       Pois o primeiro jornal que veio à luz nesta hoje cidade de Bom Jesus, foi  o “Itabapoana”, dirigido por Sylvio Fontoura, o combativo jornalista d’ “A Notícia”, de Campos, e que, nos presentes dias, velho, alquebrado, ainda possue aquelle humorismo candente que jamais o abandonou nas suas chronicas ferinas que são a delícia dos leitores desalmados, gosadores do desespero alheio, alvo de phraseado irreverente do jornalista.
         Pois é. Sylvio Fontoura foi o que primeiro botou jornal a circular, aos domingos, nesta terra de Bom Jesus. Que prélo, mon Dieu!! Vi-o, mais tarde, quando ainda menino vim para aqui. Digno de museu. Não tinha nenhuma apparencia desse machinismo que então existia noutros logares mais adeantados – a hoje archaica Boston – que na época era coisa formidável à arte que immortalizou Guttemberg.
      Digna de museu a engenhoca do jornal de Sylvio Fontoura! Vejamos os seus característicos: uma táboa grossa, de 1 metro quadrado, qual gaveta rasa, sob outra taboa grossa, móvel por intermédio de dobradiças, dispondo de uma como que alavanca na parte central. Punha-se a página sobre a primeira taboa; colocava-se o papel molhado – molhado, heim?! – sobre a dita página e... zás!: puchava-se a alavanca e após enorme esforço, estava impressa a folha collocada. A impressão, bôa ou má, estava na razão directa da força empregada para mover-se a alavanca.
         Uma coisa louca. E depois a tiragem tinha que ser reduzida, do contrário era um fazer força dia inteiro mais incômmodo do que envergar-se barra de ferro à Roberto Ruhman.
         Isso foi, segundo me contaram, em 1906, mais ou menos.
         Nesse tempo, podia-se contar pelos dedos as casas do arraial. Poucas. Quasi todas – ou todas? – deixando à mostra os seus enormes esteios de braúna, madeira que dura uma eternidade. Pois à frente de algumas dessas casas – vivendas dos habitantes mais conspícuos – reuniam-se os que iam ouvir a leitura do “Itabapoana” do dia, cuja matéria consistia de versos humorísticos, contos ligeiros, anedoctas, piadas de almanack, porque naquelle tempo ainda não havia “motivo” para “chamar-se” a attenção dos poderes competentes”, cogitar-se de melhoramentos locaes, dado que cada morador se contentava com ter limpa a frente da sua casa e a vida corria mansa qual manso lago...
         - Mas, e depois?
         - Ah! depois, bem depois, quando a terra bonjesuense começava a vestir roupagens novas é que surgiu entre outro “Itabapoana”, segunda phase, dirigido pelo grande jornalista Menezes Wanderley, progenitor do meu collega Renato Wanderley.
         Menezes Wanderley fez um “Itabapoana” intelectual e materialmente bem feito e por uns cinco annos circulou nesta Bom Jesus, até que desappareceu com a ida de seu fundador para Friburgo, onde ainda se encontra emprestando o brilho de sua Penna aos jornaes daquella bonita cidade fluminense.
         - E depois?
       - Depois, “seu” Desdedit, appareceu o “Correio Popular", de Pompeu Tostes. Vida curta. Em seguida “O Álbum” redactoriado por Nelson Paixão e R. Wanderley. Quatro números apenas. Após, veio à lume, em terceira phase, o “Itabapoana”, sob a direcção de R. Wanderley. Um anno e tanto de existência.
         Pausa prolongada, até surgir “O Norte”, jornal bem feito, sob a direcção do Rvmo. Padre Mello, penna brilhantíssima. Foi pena: durou pouco.
        Grande pausa. Surgiu a seguir “Bom Jesus-Jornal”, sob a direcção de Osório Carneiro, tendo como redactores Octacilio Aquino, Renato Wanderley, Willis Cunha e gerência de José Tarouquella. Pouco mais de anno e sumiu-se.
         Depois tivemos “O Momento”, que num momento virou sorvete.
         - E depois?
         - Ah! depois veio “A Voz do Povo”, em formato esquimau; com novo alento cresceu mais e hoje está com este grande formato e uma tiragem de 2.500 exemplares. Dirigido com segurança por Osório Carneiro; sob a gerência do baluarte José Maria Garcia; neste jornal escrevem com assiduidade todos aquelles que já se habituaram às lides da imprensa: Rvdmo. Padre Mello, Octacilio Aquino, Renato Wanderley e Romeu Couto. Houve também época brilhante com José Côrtes Coutinho e Napoleão Teixeira, o primeiro actualmente advogando e exercendo o magistério em Friburgo e o segundo hoje tenente-médico do Exército.
         - E depois?
       - Não há mais depois. “A Voz do Povo”, aqui está e estará até a consummação dos séculos.
         - Amém.
                                                                           J. João



Jornal A Voz do Povo, Anno VI, n. 265, 04/02/1939. Acervo ECLB.




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