sexta-feira, 14 de outubro de 2016

D. Carmita, aluna, professora e diretora do Colégio Rio Branco


        
MARIA DO CARMO BAPTISTA DE OLIVEIRA – a D. CARMITA, um dos nomes mais importantes de Bom Jesus do Itabapoana na área da educação no século XX, iniciou os estudos no Colégio Rio Branco desde a sua fundação, em 1920, ali permanecendo até sua aposentadoria, em 1979, deixando um grande legado em nossa terra.
Na semana em que comemoramos o Dia do Professor, nossa homenagem e todo o nosso reconhecimento a uma vida dedicada ao ensino e ao Colégio Rio Branco.
Consta, no acervo do ECLB, uma concisa biografia, realizada em 1992, pelas alunas do 2º ano do Curso de Formação de Professores do Colégio Rio Branco, sob coordenação das Professoras Walesca Araújo Coelho e Keli Cristina Tardin dos Santos, que aqui trazemos para que se possa conhecer um pouco mais sobre ela.

  
Augusto Teixeira de Oliveira e Maria da Conceição Baptista de Oliveira, 
pais de D. Carmita, em fotografia pertencente à família

PROFª. MARIA DO CARMO BAPTISTA DE OLIVEIRA 
 D. Carmita

Nasce em 12/12/1908, no município de João Pessoa (ES). 
Seus pais: Augusto Teixeira de Oliveira e Maria da Conceição Baptista de Oliveira, de tradicional família bonjesuense.
Fundado o Colégio Rio Branco em 1920 pelo Prof. José Costa Jr., ela foi uma das primeiras alunas ali matriculadas. Em 1928, no mesmo Colégio, começou a lecionar ministrando aulas de História Geral e do Brasil.
Em 1939, convidada pelo sr. Olívio Bastos, Diretor Comercial do Rio Branco, assumiu a Direção Técnica do tradicional educandário, desenvolvendo uma atuação brilhantíssima que marcou época na história educacional bonjesuense.
D. Carmita – como era mais conhecida – fazia parte de uma família excepcional de educadores, todos, como ela, com seus estudos iniciados em 1920 no Colégio Rio Branco, como: Dr. Francisco Baptista de Oliveira (Dr. Chiquinho), Profª. Clarice Baptista de Oliveira Jesus, Profª. Maria José Baptista de Oliveira, Profª. Zilda Baptista de Oliveira Teixeira, Profª. Geny Baptista de Oliveira Silva.
Ao se afastar da Direção do Colégio Rio Branco, face sua aposentadoria, na década de 70, D. Carmita ainda dedicou alguns anos de sua preciosa existência ao Ensino oficial no Estado do Rio de Janeiro, lecionando no C.E. Padre Mello, quando era Secretário de Educação e Cultura do Estado o Prof. Dr. Delton de Mattos, seu ex-aluno.
Faleceu nesta cidade no dia 23/10/1980.



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A seguir, três ex-alunos do Rio Branco, o desembargador Ademir Paulo Pimentel, a Professora Therezinha Chalhoub de Oliveira e o desembargador Nivaldo Xavier Valinho, relembram a educadora.

Dr. Ademir Paulo Pimentel 
(04.10.1980, durante as comemorações do 60º aniversário de fundação do educandário)

"... e pude então voltar ao passado e me lembrar aquele dia em que meu pai levou-me ao 'Rio Branco' e disse: 'dona Carmita, de agora em diante o Ademir está entregue à senhora!'. Confesso que não me recordo a verdadeira reação, porque tomado daquele medo característico do adolescente, que de forma errada e distorcida, via em dona Carmita, ao contrário do que realmente era, a encarnação da violência. Se naquela época a olhava sob o clima de terror, hoje a reverencio como símbolo do amor, eis que a Deus, aos meus pais e a ela, devo o que sou, não desconhecendo outros que, em escala menor, constituiram-se em elementos construtores do meu caráter. Posso ter uma orelha um pouco mais esticada do que possuía antes de ingressar no 'Rio Branco'; posso não ter compreendido em tempo útil os castigos, as repreensões, os retornos à tarde para o estudo e até mesmo aqueles dias em que fiz dos gabinetes o 'refeitório' da não muito suculenta e agradável refeição. Mas uma coisa eu posso afirmar: sou homem, embora com as limitações naturais oriundas de minhas fraquezas humanas, porque fui criado com disciplina. E eu me recordo que naqueles tradicionais 'castigos', de uma frase não me esqueci: (também pudera! Eram mil vezes, quando não era possível o incômodo uso dos três ou dois lápis que facilitavam o serviço) 'a disciplina é o fator do progresso'. Alguns já levavam copiado de casa!

Nos sessenta anos do 'Rio Branco', não poderia, dona Carmita, silenciar-me. Quanto lhe devo! E quantos lhe devem um tributo imperecível de gratidão e que eu virtude das lutas da vida, nem sempre podemos demonstrar em atitudes o nosso sentimento! (...)

Portanto, dona Carmita, nos sessenta anos do 'Rio Branco', receba o nosso reconhecimento e nossa gratidão. Em meu nome e de milhares de outros, que espalhados pelo nosso Brasil, tiveram o seu caráter moldado pelo respeito, pela disciplina.
Obrigado, dona Carmita!"


Profª. Therezinha Chalhoub de Oliveira
(13.11.1987, na inauguração de seu retrato como patrono do CIEP D. Carmita)
"Sinto-me deveras honrada e feliz por ter sido aluna de D. Carmita. Com que gosto e entusiasmo discorria sobre fatos e datas de nossa História; sobre as notáveis e grandes civilizações narradas e descritas à luz da História geral; sobre a organização política e social do Brasil. Nas lições punha ordem e objetividade para nos ver logo adiante alcançar o domínio da matéria; era exigente quanto ao comportamento em salas de aula ou no pátio, certa de que o domínio das boas maneiras fortalece e purifica o temperamento."

Dr. Nivaldo Xavier Valinho 
(17.11.1995, nas comemorações do 75º aniversário de fundação do educandário)
"Nesta noite, meus amigos é preciso que voltemos no tempo 75 anos atrás; imaginemos uma Bom Jesus daquela época: um punhado de casas; um pequeno grupo populacional; uma pequena comunidade sequiosa de independência, de maioridade e, convenhamos, só o talento e a coragem de uns poucos visionários, poderiam ensejar à nossa terra tão grande incentivo à cultura, às letras e à educação; a fundação de uma Escola que viria marcar indelevelmente as gerações futuras de Bom Jesus.(...)

Mas, a História do Colégio Rio Branco não se dissocia da História de Bom Jesus: os mesmos momentos de ousadia; iguais tormentos de crises, mas sem esmorecimentos porque amparados um e outro no que esta terra possui de mais singular, ante os demais rincões brasileiros: a força de sua comunidade. Bom Jesus possui esta virtude ímpar, que atravessa os tempos; seu povo sempre soube quando unir-se sob uma mesma bandeira, quando mais alto se descortina o interesse de todos.

Deparando intransponíveis exigências do MEC nas altas taxas para os educandários reconhecidos, o Rio Branco soçobrava, perdendo sua oficialização, mas logo encontrou amparo na sobrevida quando uma JUNTA INTERVENTORA, constituída pelos valorosos homens da comunidade, OLIVIO BASTOS, JOSÉ DE OLIVEIRA BORGES (então Prefeito) e JOSÉ MANSUR, passou a administrá-lo, restabelecendo sua oficialização e garantindo sua continuidade, sempre mantida a qualidade de seu ensino.

Iniciou-se aí uma administração duradoura, comandada por OLIVIO BASTOS, e a era de uma Diretora que marcou a vida estudantil de gerações de bonjesuenses: MARIA DO CARMO BAPTISTA DE OLIVEIRA – a D. CARMITA. Tinham tudo para fracassar numa convivência profissional: ele, quase um lord; um inglês por formação, dada sua convivência com os construtores da estrada de ferro: discreto, paciente, mas indomável; D. CARMITA, toda ímpeto, dedicação integral e diuturna ao Colégio; disciplinadora inflexível.

Essa convivência, entretanto, varou décadas. “Seu Olívio” passou à história como o proprietário compreensivo e de grande visão administrativa. D. Carmita soube adequar sua missão às diretrizes de Olívio Bastos, sem abdicar de sua forte personalidade e do temperamento dominador, que entretanto, visavam o progresso do Rio Branco e o futuro de seus alunos.

Certo, porém, quanto a ela, que nenhum de nós, ex-alunos da geração D. CARMITA, não consegue permanecer silente em qualquer sala daquela Casa sem perceber seus passos firmes ao longo dos corredores; ainda hoje, esta sensação ocorreu-me, na sentimental visita feita à antiga Escola.

Reverenciamos a figura de D. CARMITA pelo tanto que dedicou ao Colégio Rio Branco e ao nosso aprimoramento educacional. Sem a visão de futuro que ela inegavelmente possuía, quantas e quantas vezes me rebelei a cada “indicação voluntária” que me era feita para declamações, teatros, grupos de canto, monólogos, etc. etc. nas festivas reuniões do “Grêmio Humberto de Campos”, atividades que mais tarde me valeriam – e muito – na vida profissional a que a vocação me conduziu. Assim comigo, igual a tantos e tantos outros colegas.

Possuía D. CARMITA o dom de descobrir em cada qual uma virtude às vezes oculta, que, trabalhada, se transformava numa qualidade desconhecida do próprio aluno."

                               ***
                             

Abaixo, trecho do artigo do jornalista Sílvio Fontoura no jornal A Notícia, de Campos dos Goitacazes, em 16/12/1943, noticiando a comemoração, no Colégio Rio Branco, do aniversário da educadora.
   










A seguir, a ex-aluna e professora do Rio Branco, a então normalista Neumar Monteiro homenageia a mestra no jornal escolar A Voz do Estudante.

Prof.ª e poetisa Neumar Monteiro
(1966, A Voz do Estudante)


   


Dr. Luciano Bastos, Maria das Graças Couto, Leny Borges Bastos,Prof.ª Maria do Carmo Baptista de Oliveira, Prof.ª Olívia Freitas.



Sala da antiga Secretaria do Colégio Rio Branco, preservada pelo Espaço Cultural Luciano Bastos, tendo ao fundo fotografia da aluna, professora e diretora Maria do Carmo Baptista de Oliveira. Foto Diadorim Ideias/Cris Isidoro




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