terça-feira, 24 de maio de 2016

Confira como foi o Circuito Difusão - 10ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos no ECLB




     No mês de maio o ECLB foi palco do Circuito Difusão - 10ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos, exibindo seis filmes que abordam questões fundamentais, sob vários aspectos, para a cidadania. As sessões, gratuitas e com direito a suco e pipoca, atraíram um público diverso, mas com um ponto em comum: o interesse em refletir sobre temas pulsantes e fundamentais em nossa sociedade.

Alunos do Centro Educacional Santa Rita de Cássia assistem Félix, o Herói da Barra, no dia 04/05, em sessão escolar

Essa é a segunda vez que o ECLB participa da difusão da Mostra, e em 2016, as sessões noturnas contaram com a participação especial de dois ex-alunos do Colégio Rio Branco para conduzir o debate após a exibição dos filmes.


10/05: Porque Temos Esperança
Nas "Terça na Tela", o professor de filosofia Rafael Tardin (Cineclube Debates, do IFF) conduziu as sessões: Félix, o Herói da Barra; Porque Temos Esperança; 500 - Os bebês roubados da ditadura militar.
12/05: O Muro é o Meio



Nas sessões do "Curta às Quintas", a condução ficou a cargo do jornalista Pedro Salim Junior, com os filmes: O Abraço da Maré; O Muro é o Meio; O Outro Lado.



Como foi o evento? Com a palavra os debatedores:


Assim caminha a Humanidade

Pedro Salim Jr.
"A 10ª Mostra de Direitos humanos encerra mais uma vez e nos deixa a sensação que a nossa alma não é pequena diante dos temas oferecidos pelos filmes. A ideia edificada no coletivo quando se ouve que “direitos humanos é para defender bandidos” começa a ruir quando se entende que defender a dignidade humana é algo muito maior. Pobreza, miséria, preconceito e intolerância são discutidos amplamente sem necessariamente recorrer a piedade. Arte visual que passeia pela dor mostrando que a vida pode ser bem melhor.

Fique atento à programação do ECLB. Até a próxima!"

                                        Pedro Salim - jornalista



05/05: O Abraço da Maré
12/05: O Muro é o Meio

19/05: Do meu Lado


Rafael Ferreira Tardin:

Rafael Tardin

"A proposta da 10ª Mostra de Cinema de Direitos humanos, exibida e discutida numa ação conjunta entre o Espaço Cultural Luciano Bastos e o projeto de extensão Cineclube Debates do IFF Bom Jesus, era a de um olhar cuidadoso sobre questões não óbvias. Questões essas que emergem de uma forma poderosa diante de nós quando realizamos tal empreitada. Se propor a pensar as relações que envolvem os direitos humanos é sempre um ato de coragem, pois pressupõem-se ir além do que é visto e tido como real. Caminhar em territórios desconhecidos sempre causa certo receio.

03/05: Félix, o Herói da Barra
Refletir sobre algo é sempre um movimento complexo. Flexionar sobre si (reflexão) é antes de tudo envolver-se. Não há como discutir relações humanas e não sentir-se alvo das discussões. Pensar, antes de tudo e acima de tudo é ato, movimento. Diante disso, pensar os filmes da Mostra de Cinema de Direitos Humanos é nos colocar diante de questões não somente enquanto meros expectadores e sim como indivíduos comprometidos com a práxis, com uma ação em resposta à tomada de ciência de tais problemas e desafios. 

10/05: Porque Temos Esperança
Memória e identidade. Temas que compuseram a “coluna vertebral” desse evento que, a meu ver, também se configurou como uma convocação a todos que ali se encontravam. Não diria que o evento se configurou como somente “um convite ao pensar”, pois aqui, a partir da iniciativa livre de se propor a refletir, o que se tem é um verdadeiro comprometimento com o que se vê e se percebe. Ter ciência do embate dos moradores da Barra do Aroeira, da jornada de Marli e da luta das avós da Praça de Maio implica em posicionar-se; implica numa mudança de postura diante das coisas. Conhecer tais histórias, mais do que um privilégio, é se colocar mediante o confronto entre o dito e o não dito; o revelado e o não revelado; a justiça e a injustiça . O que testemunhei e compartilhei nessas três semanas foi muito mais que exibições, foram olhares minuciosos sobre lutas, embates e vidas que anseiam por reconhecimento existencial, por uma construção livre de sua identidade e pelo direito a cidadania. 

17/05: 500 - os bebês roubados da ditadura militar
Tendo em vista essa relação com as obras apresentadas (“Félix, o herói da Barra”, “Porque temos esperança” e “500 – os bebês roubados da ditadura militar”), a apreensão crítica direcionou nossos olhares para diversos caminhos, dentre os quais a Ética, que se manifesta enquanto fundamental e necessária numa conexão entre a vida dos que apreciavam os documentários e a vida dos que eram exibidos nos mesmos. Tal conexão é forte e imperativa. É no campo da Ética que as vidas se entrelaçam, se formam, ganham sentido e identidade, permanecendo por fim para sempre eternizadas na memória (ou não). Mas na memória de quem? Quem representa a memória, representa qual memória? A sua ou daquele que venceu? Quem guarda a memória das vítimas senão os sobreviventes?


É preciso se (re)pensar a própria memória. 

10/05: Porque Temos Esperança
Enquanto receptáculo da identidade, a memória por sua vez necessita ser compartilhada e nisso a Mostra de Cinema de Direitos Humanos cumpre a mais bela das missões: permitir que a memória dos sobreviventes seja revelada às pessoas que fazem parte desse mundo e que desconhecem de tal conexão com as mesmas. Do outro lado da tela, o público que esteve presente no Espaço Cultural para assistir aos documentários e discuti-los se deparou com a possibilidade de ser agente transformador daquilo que impede tais histórias de chegarem às pessoas. 

19/05: Do meu Lado
A Mostra de Cinema de Direitos humanos agrega dois projetos reflexivos em um: pensar como o audiovisual (Cinema) pode nos levar para além de uma visão puramente intelectual sobre as coisas e pensar sobre os direitos humanos como algo que preza pela preservação da alteridade, elemento basilar na construção das relações humanas.

03/05: Félix, o Herói da Barra
Enquanto audiovisual, o impacto não é meramente intelectual (racional), o que permite um envolvimento diferente com o que é apresentado. Esse envolvimento, conduzido pela emoção, culmina numa percepção sobre o cenário apresentado que perpassa a dimensão humana, promovendo dessa forma uma conexão que transcende tempo e espaço. Essa conexão alimenta a alteridade e pressupõe uma postura que se distingue do desprezo e indiferença em relação às lutas e os dramas vividos pelas pessoas (e não personagens) vistas na tela. O abalo que um documentário provoca é o da constatação de que aquilo que se vê não é ficção, ou seja, algo criado artificialmente que simula o real nos permitindo “brincar” de viver, provocando em nós reações que então são canalizadas em momentos da nossa própria realidade e não aqueles retratados na tela. 

03/05: Félix, o Herói da Barra
Assim sendo, os documentários nos apresentam vidas, existências que se enquadram no mesmo plano real que os espectadores, que então não se permitem “brincar” de viver num ambiente controlado, pois o ambiente é a própria realidade, fruto de ações e movimentos que na maioria das vezes escapam ao controle. No mundo real não é permitido “brincar” de viver. Quando o público se vê no mesmo plano daquele que está na tela, ele se assume como ator, cuja atuação pode ser no sentido de compactuar com o ocultamento daquela memória ou o contrário disso: aliar-se na luta pelo resgate da memória e da construção da própria identidade ao lado do povo da Barra do Aroeira, da Marli e das avós da Praça de Maio. 

10/05: Porque Temos Esperança
Trata-se de um recorte do real que desde já, em sua premissa mais básica, deixa claro que se trata de um projeto transformador: é preciso mostrar não para pura apreciação estética e sim para mudar. Enquanto outro projeto reflexivo, pensar os direitos humanos de uma forma que foge ao senso comum é admitir a luta e o embate como elemento essencial. Não se trata de uma luta que segrega direitos enaltecendo determinadas demandas em detrimento de outras, pelo contrário. O embate travado é sempre no intuito de exigir equidade, ou seja, a luta segue sempre na direção da alteridade como um “cuidar do outro como cuidar de si”. E novamente é possível analisar que, pensar a reconstrução das relações humanas por meio da luta pelos direitos humanos é uma questão Ética. 

Ferir o preceito da equidade é um crime que transcende cenários locais. Para ser mais preciso transcende os limites físicos alcançando aquela dimensão inteligível onde habita a noção de humanidade, compreendida então como aquilo que comporta todos os seres humanos, sem distinção alguma. Crimes contra a humanidade ferem os direitos humanos e como tais pressupõem uma agressão a todos os humanos. Lutar por esses direitos é um processo duplo: ao lutar pelo direito do outro, na mesma medida, luto por mim mesmo. Os direitos pelos quais o povo da Barra do Aroeira, Marli e as avós da Praça de Maio lutam também são nossos. É por meio desses direitos que nos conectamos enquanto existências que anseiam a mesma coisa, e é nesse ponto que podemos ter um pequeno vislumbre da conexão que a palavra humanidade remete. 
10/05: Porque Temos Esperança
Participar de um ciclo de discussões sobre esses dois projetos reflexivos nos impele a mergulhar em dimensões radicalmente humanas. Longe de toda forma mecanizada de pensar que camufla a humanidade em nós por meio de um discurso técnico que se propõe enquanto detentor absoluto da verdade sobre o real. 

Enquanto conexão desenvolvida nessas três semanas, afirmo com toda certeza que a história do povo da Barra do Aroeira, da Marli e das avós da Praça de Maio repercutiram em minha existência compondo desde então minha memória. Levo para o resto da minha vida a historia dessas pessoas e através do contato com elas a construção da minha identidade ganha um novo capitulo. Parabenizo ao Espaço Cultural pela iniciativa ao abrir suas portas e permitir que várias pessoas conhecessem essas grandes demonstrações de coragem e luta. Obrigado ao Espaço Cultural por compartilhar comigo esse momento tão especial."


Confira mais fotos do evento:


10/05: Porque Tempos Esperança





12/05: O Muro é o Meio
17/05: 500 - Os bebês roubados da ditadura militar
19/05: Do meu Lado
13/05: Félix, o Herói da Barra

O ECLB agradece a Pedro Salim Júnior e Rafael Ferreira Tardin, bem como a todos que estiveram conosco durante o Circuito Difusão, enriquecendo os debates e as reflexões.


Quer saber mais sobre os filmes apresentados? Confira: 
http://espacoculturallucianobastos.blogspot.com.br/2016/04/10-mostra-cinema-e-direitos-humanos-em.html

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