terça-feira, 25 de março de 2025

Memórias do Modernismo em Bom Jesus: o "Prédio dos Bancários"

"Prédio dos Bancários", primeiro conjunto habitacional de Bom Jesus do Itabapoana, RJ.
Vista da Rua República do Líbano. Foto: Paula Bastos, 2025.
 
por Paula Aparecida Martins Borges Bastos 

   

   A história de alguns imóveis contribui para a compreensão de como os processos de urbanização de uma cidade vão sendo delineados ao longo do tempo. Esse é o caso, por exemplo, do "Prédio dos Bancários", em Bom Jesus do Itabapoana

   Com seus quase 66 anos de idade, para além de um projeto urbanístico local, a construção do edifício fez parte de um conjunto de obras realizadas por uma autarquia federal, o Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Bancários, o IAPB.

  Assim como os demais Institutos de Aposentadoria e Pensão de outras categorias profissionais, o IAPB surgiu no período do primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945). Estes órgãos executaram “as primeiras iniciativas públicas de produção de moradia” e possuíam fortes tendências modernistas (1).

   E o que caracteriza o modernismo? Segundo Palhas (2)

A produção arquitetônica do movimento moderno geralmente é associada quase que exclusivamente a determinados princípios estéticos, muitas vezes traduzidos em uma descrição estilística dos objetos: edifícios modernos são construções com coberturas planas sem qualquer ou pouca ornamentação, de geometria pura, fachadas transparentes e clareza construtiva, enquanto a espacialidade e o próprio conteúdo social e teórico geradores desta linguagem plástica têm sua compreensão reduzida. (p.19)

"Prédio dos Bancários", fachada no estilo modernista, vista da Rua República do Líbano,
Bom Jesus do Itabapoana, RJ. Foto: Paula Bastos, 2025.

    Os ideais modernistas de arquitetura e urbanismo logo foram incorporados ao setor habitacional brasileiro, integrando as questões técnicas de construção ao objetivo governamental de modernizar a nação (3).

  Nesse contexto é que se delineou o primeiro edifício habitacional vertical no espaço urbano de Bom Jesus do Itabapoana. Esse tipo de construção vinha se expandindo por todo o país, a ponto de existirem em diversas cidades, grande parte deles com características muito semelhantes:

O IAPB teve o privilégio de implantar suas obras residenciais em áreas centrais e, muito frequentemente, adotou como partido edifícios em altura ou blocos isolados de quatro pavimentos, integrados à malha urbana. Foram empregados nesses projetos elementos típicos do movimento moderno no Brasil, tais como cobogós, brise-soleils, pilotis, fachadas envidraçadas, modulação da estrutura e equipamentos coletivos na cobertura. Tais edifícios ficaram conhecidos como "edifícios dos bancários" e estão presentes em várias capitais brasileiras, mas também em cidades de pequeno e médio porte, sobretudo na região Sudeste. Quando implantados em terrenos maiores, sempre dispunham de áreas verdes e livres. Por essa razão, associa-se a atuação do IAPB ao processo de verticalização de inúmeras cidades brasileiras e à difusão do movimento moderno. (4)

   Dentre os "Edifícios dos Bancários" construídos no estado do Rio de Janeiro, podemos destacar o de Niterói e o do bairro do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro. Em Brasília, uma das obras do IAPB foi o Conjunto Habitacional Presidente Juscelino Kubitschek, composto de 11 blocos projetados por Oscar Niemeyer (2, 5).

   É claro que especificidades foram consideradas em cada localidade, e seria interessante um estudo sobre o projeto arquitetônico realizado em Bom Jesus. Percebe-se que um pequeno espaço de área verde foi projetado no entorno da construção, e talvez uma de suas mais curiosas singularidades esteja no modo de nomeação do imóvel, pois se em vários lugares a denominação é “Edifício dos Bancários”, em Bom Jesus, a edificação  ficou conhecida como “Prédio dos Bancários”.

"Prédio  dos Bancários", vista da Rua Coronel Luiz Vieira Rezende. Foto: Paula Bastos, 2021.

O início: 1º semestre de 1957

   A história do edifício se inicia em 1957, quando os bancários bonjesuenses têm suas demandas habitacionais reforçadas por um conjunto de fatores facilitadores.

   Naquela época o Rio de Janeiro era a capital do país, a sede da presidência da República. O presidente era Juscelino Kubstichek, que vinha implementando uma política desenvolvimentista em seu governo. Ao mesmo tempo, figuras políticas bonjesuenses vinham ocupando postos de destaque no governo estadual, como era o caso de Roberto Silveira, então vice-governador do Rio de Janeiro, a quem se credita o êxito da realização da construção.

O bonjesuense Roberto Silveira
Foto: jornal O Norte Fluminense, 19/10/1958 

   Apesar de ser uma demanda antiga dos bancários, as conversas que iniciaram efetivamente a concretização de um projeto habitacional para a categoria, em Bom Jesus, ocorreram em fevereiro de 1957.  Nessa  data, em uma reunião de ampla participação, no Aero Clube da cidade, estiveram presentes (6):

- Pelo IAPB: o Delegado de Niterói, Walter Favila Nunes, e o Procurador da autarquia, Dr. Palmyr Silva;

- o Secretário particular do Vice-Governador Roberto Silveira, o bonjesuense Ely Nunes;

- Bancários

- Políticos bonjesuenses,  tais como: os vereadores Esio Martins Bastos e Jayme Rodrigues do Carmo; o suplente de deputado estadual, Tito Nunes da Silva; Dermevaldo Bastos Tavares, do PTB local, mesmo partido do Vice-Governador Roberto Silveira. 

   Dentre os resultados da reunião, definiu-se a fundação de um Sindicato dos Bancários de Bom Jesus, além de serem discutidas questões referentes a empréstimos e assistências médica e hospitalar. Outro tema da pauta foi a construção de um núcleo residencial para os bancários, tendo sido levantadas diversas possibilidades, como construção de casas ou edifício, estudando-se as condições em que ocorreria o pagamento dos imóveis adquiridos pelos bancários. (6)

  Nessa reunião montou-se uma Comissão dos bancários para estudar o assunto e consultar todos os interessados. A Comissão foi composta pelos seguintes representantes (6):

Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais: Zilton Citeli Assad;

Banco do Brasil: José de Almeida e Lauro Hipólito da Silva;

Banco do Estado: Antonio Castro;

Banco de Crédito Agrícola do Espírito Santo de Bom Jesus do Norte: Sebastião Laxe Gouvêia;

Caixa Econômica Federal, agência de Bom Jesus: José Ferreira Catharina.

    O jornal A Voz do Povo, em sua reportagem, indica que, por parte do IAPB havia preferência pela construção de um edifício, ao invés de casas. (6)

     Com efeito, essa vinha sendo a linha do Instituto empregada naquela década:

A partir de 1950, o IAPB consolidou uma política particular para os seus projetos habitacionais, caracterizada por edifícios de grande altura ou blocos únicos de quatro pavimentos implantados em terrenos de menores dimensões, integrados à malha urbana central das cidades, denominados “Edifícios dos Bancários” que acabaram se consolidando como um elemento de identidade da categoria. (7)

     Observamos assim, que a construção da obra em local próximo ao centro da cidade estava integrada às linhas diretrizes do IAPB, de forma que, quando os bancários encaminharam a escolha do local de construção do imóvel em um terreno na Rua República do Líbano, provavelmente conversações prévias para entendimento sobre essa localização já teriam ocorrido, especialmente entre bancários, políticos e gestores.

   Os jornais locais apontavam uma realização relativamente rápida, com previsão, ainda no primeiro semestre de 1957, da realização dos estudos necessários para a compra do terreno e lançamento do Edital de concorrência para a construção do "Edifício dos Bancários" (8, 9).

Lançamento da Pedra Fundamental: Festa de Agosto de 1957

Programação da Festa de Agosto, jornal O Norte Fluminense, 1957.
  

   A expectativa avançou com o lançamento da pedra fundamental do conjunto residencial no início do segundo semestre, durante a Festa de Agosto de 1957, ocasião em que se esperava a presença de diversas autoridades, dentre elas o Vice-Governador Roberto Silveira, havendo ainda a expectativa de estar este acompanhado do Vice-presidente, João Goulart, e do Ministro do Trabalho, Pascifal Barroso. (10) (11)

   Nessa ocasião, noticiava o jornal O Norte Fluminense, os bancários iriam oferecer um banquete aos visitantes, no Colégio Rio Branco. Além disso, as representações locais contavam apresentar as principais reivindicações da região: “transporte ferroviários (volta ao tráfego dos trens da C.F. Itabapoana) e do aproveitamento do potencial hidrelétrico do rio Itabapoana. Dois velhos e angustiantes problemas que manietam, que dificultam, a nossa marcha ascensional em demanda de dias mais prósperos.” (10)

Jornal O Norte Fluminense, 11/08/1957


   A visita das autoridades estaduais e federais a Bom Jesus durante a Festa de Agosto foi noticiada em diversos órgãos de imprensa do estado do Rio de Janeiro como tendo ocorrido no dia 15 de agosto, sendo anunciada também a visita do Governador do Rio de Janeiro, Miguel Couto. (12)

Visita do Sr. João Goulart a Bom Jesus. Na foto: 1. João Goulart, 2. Roberto Silveira, 3. José de Oliveira Borges, 4. Tito Nunes, 5. Miguel Couto, 6. Dermevaldo Bastos Tavares, 7. Parsival Barroso.
Imagem e Legenda: Álbum de Fotos Históricas - Acervo ECLB.

Legenda original identificando alguns dos integrantes da fotografia do Álbum de Fotos Históricas referente à visita do Sr. João Goulart a Bom Jesus do Itabaapoana, RJ. Acervo: ECLB. 

   O Diário Carioca dá mais detalhes da visita do vice-presidente ao Norte do Estado do Rio, destacando ter João Goulart passado por Itaperuna, onde inaugurou uma agência do SAPS e conversou com bancários locais. Em Bom Jesus do Itabapoana, "depois de presidir à inauguração de um armazém do SAPS, foi conhecer o local onde o IAPB vai construir um edifício de apartamentos  para bancários"*. Antes de regressar ao Rio de Janeiro, Jango e sua comitiva  participaram de um "banquete com que foram homenageados nos salões do Ginásio Rio Branco". (13)

   Com base nessas informações, que dão conta da  presença de João Goulart e Roberto Silveira juntos na Festa  de Agosto de 1957, participando da inauguração de um armazém do SAPS e do lançamento da pedra fundamental do Prédio dos Bancários, na Rua República do Líbano, tudo leva a considerar que a famosa fotografia publicada pelo jornal O Norte Fluminense em seu blog (veja aqui), em que é possível observar os dois políticos acompanhados de personalidades bonjesuenses nas imediações da Praça Governador Portela (14, 15) é referente ao mesmo evento. É possível observar que ambos portam a mesma roupa nas duas imagens. Bom Jesus teria, assim, recebido na época os dois políticos quando ocupavam o cargo de vice-presidente e vice-governador, respectivamente.

A construção 

  O Edital de concorrência pública nº 8/58 foi lançado pelo IAPB em 10/05/1958, sendo publicado em jornais de grande circulação no país. O objetivo era "a construção de um edifício na cidade de Bom Jesus do Itabapoana, Estado do Rio de Janeiro, à Rua República do Líbano e Coronel Luiz Vieira de Rezende", sendo a data da concorrência, após adiamento, marcada para 15/06/1958. (16)

    Com valor do contrato de sete milhões e duzentos e  dez mil cruzeiros, foi dado início às construções em 20/10/1958. O prazo estimado para a conclusão foi de dez meses. A execução ficou a cargo da Empresa Nacional de Saneamento e Obras (ENSO S.A.), tendo sido o engenheiro responsável pela obra o sr. Antonio Monteiro de Barros. Atuou no local como engenheiro encarregado o sr. José de Alencar, que permaneceu em Bom Jesus durante o período dos trabalhos. (17)

"Prédio dos Bancários" em construção. Jornal A Voz do Povo, 1959.
   Sete meses depois, em maio de 1959, foi comemorada a festa da Cumieira no edifício (18), indicando que a obra já estava no seu ápice, pois essa festa, de antiga tradição, era realizada quando a construção alcançava o ponto mais alto do telhado da casa.
   Ao ficar pronta a obra, seu custo alcançou dez milhões e cem mil cruzeiros (19). Foi entregue à cidade um prédio de três andares, “todos de concreto armado”, em um total de 12 apartamentos, sendo três deles com três quartos e os demais com dois quartos cada, “afora dependências para empregados” (17). Como os bancários constituíam à época um grupo de trabalhadores com salários relativamente altos em relação à população geral, os projetos do IAPB muitas vezes eram pensados para essa “parcela socialmente mais abastada de associados”, o que poderia explicar a construção de “dependência para empregados”(3).
   Com excelente localização, próximo à Praça Governador Portela, o Prédio foi considerado a “obra de maior monta que possuímos” (19), criando a expectativa de acrescentar à incipiente Rua República do Líbano o dinamismo e a perspectiva que dela esperavam os que se aplicaram em sua abertura, iniciada na década de 1940.

Inauguração do Prédio dos Bancários: Festa de Agosto de 1959

"Prédio dos Bancários" recém construído. Jornal A Voz do Povo.

  A inauguração, com desatamento de fita e descerramento de placa comemorativa, ocorreu no dia 14, durante a Festa de Agosto de 1959, ao som da Banda da Política Militar do Estado, que tocou “um vibrante dobrado” (20) (21).

   Dentre os presentes que fizeram uso da palavra estavam (20):

- Lauro Hipólito da Silva, representando os bancários bonjesuenses;

Jornal O Norte Fluminense, 1959

- Professor David Gebalie, em nome da colônia libanesa local e do Clube Libanês, de Niterói;

- J. Costa, em nome dos bancários de Campos;

- O deputado Tito Nunes da Silva, representante na Assembleia Estadual;

- O Prefeito de Bom Jesus do Itabapoana, Gauthier Pontes Figueiredo;

Jornal O Norte Fluminense, 1959

- O Presidente do IAPB, Ennos Sadock de Sá Motta;

Jornal O Norte Fluminense, 1957

- O bonjesuense Roberto Silveira, na condição de Governador do Estado do Rio de Janeiro.

Edifício Octacilio de Aquino

Edifício Octacilio de Aquino dá nome ao "Prédio dos Bancários" e consta em seu pórtico de entrada.
Foto: Paula Bastos, 2021.

   Em sua fala, o Governador Roberto Silveira sugeriu que, ao invés de colocarem seu nome no Edifício, como constava no Programa, que este recebesse o nome do recém falecido Octacilio de Aquino, “cuja memória é grata aos bonjesuenses, não apenas como grande intelectual que foi, mas também como Juiz de Direito Substituto da Comarca e um dos mais ilustres filhos de nossa terra” (20) (saiba mais). A sugestão foi aceita, perdurando o Edifício com esse nome até os tempos atuais, conforme pode-se observar no pórtico da entrada de acesso ao Prédio voltado para a rua Coronel Luiz Vieira Rezende.


O nome Octacilio de Aquino para o prédio foi sugestão de Roberto Silveira, como homenagem ao famoso bonjesuense, recém-falecido à época. Foto: Paula Bastos, 2021.


   A fala de Lauro Hipólito da Silva, representante dos bancários de Bom Jesus, além dos agradecimentos gerais, expressou bem o sentimento que deve ter atingido a muitos dos que contemplaram o prédio naquele momento: “o regozijo da classe é plenamente justificável, pois se o nosso edifício carece, em suas linhas, de arrojo funcional que caracteriza a arquitetura hodierna, oferece a segurança e o conforto, requisitos por nós considerados essenciais”. (21). É possível que, em sua fala, o bancário estivesse pensando nas novas casas que vinham sendo construídas no centro da cidade, em especial as de propriedades dos vários libaneses que vinham dinamizando a arquitetura urbana das casas com suas novas e rebuscadas construções pelas ruas do centro da cidade e na Praça Matriz, onde inclusive um Edifício ao estilo eclético havia sido inaugurado no início da década, o imponente Cine Teatro Monte Líbano (22)(23).

   Apesar de inaugurado, o Edifício dos  Bancários ainda não se encontrava pronto para ser habitado, pois havia a indicação de que necessitava de algumas finalizações, que estavam previstas para serem concluídas em um mês.

    Em fins de 1959, matéria do jornal A Voz do Povo indica que, apesar de habitável, o “edifício que tanto veio embelezar e enriquecer a rua República do Líbano, continua até hoje sem moradores. É que o aluguel dos apartamentos, em alguns casos, atinge a mais de seis mil cruzeiros, preço exorbitante mesmo para os associados que percebem melhores vencimentos”. Uma solicitação dos bancários bonjesuenses foi encaminhada ao IAPB solicitando que “o assunto fosse estudado com mais cautela e espírito de equidade”, havendo a expectativa de se fizesse uma “revisão no peço dos aluguéis, para que os mesmos sejam estipulados em bases mais justas” (24).

  A situação parece não ter sido resolvida de imediato, pois em julho de 1960, o mesmo jornal informa que o prédio conta com vários apartamentos desocupados, o que seria decorrente do alto preço dos aluguéis e do alto valor necessário para aquisição. Estariam morando no local apenas três bancários e um particular, porém não na condição de compradores, mas sim de inquilinos. O pagamento de água e luz, bem como o do zelador e do síndico estavam a cargo do Instituto dos Bancários, para garantir a conservação da obra (19).

Os elogios da imprensa 

   A forma como a imprensa se refere ao prédio, seja durante sua construção ou após finalizado, é sempre elogiosa, reforçando a convicção de que sua relevância não está apenas na função habitacional, mas também no impulso ao progresso. Assim, a expectativa é de que a obra “virá cooperar em muito para o maior desenvolvimento da cidade, com a edificação de um prédio de linhas modernas numa de suas ruas principais” (9). Essa construção “será um relevante serviço à classe e também à nossa terra que tanto necessita de iniciativas dessa natureza para o seu maior desenvolvimento” (6). No mesmo sentido, afirma-se que “Além de atender às aspirações da classe, virá concorrer para o maior desenvolvimento de nossa terra”. O conjunto residencial ganha adjetivos como “suntuoso” (17), “imponente” (18), “magnífico”, sendo a obra “majestosa” (19). Ao final de sua realização, a afirmação é de que a “obra cara e suntuosa, veio, sem dúvida, cooperar para o embelezamento de Bom Jesus e para o enriquecimento de seu parque imobiliário (26).


Memórias do modernismo local

"Prédio dos Bancários", na esquina entre as ruas República do Líbano e Coronel Luiz Vieira
de Rezende. Foto: Paula Bastos, 2021.

   Podemos perceber que o “Prédio dos Bancários” de Bom Jesus possui uma característica arquitetônica peculiar integrada a um projeto nacional que envolveu as políticas nacionais habitacionais.

    Ao pesquisar sobre o Edifício dos Bancários de Passo Fundo (RS), Souza destaca a importância de se pesquisar tais imóveis, afirmando que

(...) o estudo da atuação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões no campo habitacional, sobretudo, em cidades distantes das capitais, se faz necessário frente a necessidade do resgate histórico de suas ações e, especialmente, da salvaguarda do patrimônio arquitetônico moderno. (3)

  Podendo ser considerado o primeiro prédio habitacional modernista da cidade, o "Prédio dos Bancários" não é o único imóvel de Bom Jesus projetado sob influência modernista. 

    A  fachada do Hospital São Vicente de Paulo voltada para a  Avenida Fasbender, na época de sua inauguração,  "se constituía como uma evidente arquitetura do período modernista, possuindo um conjunto de elementos clássicos do movimento e que, atualmente, encontra-se completamente descaracterizada" (26).

   Não parece descabido imaginar que um estudo mais detalhado do patrimônio local poderia apontar outros imóveis com características alinhadas com o conceito modernista que tanto influenciou arquitetos e engenheiros daquela época.

   Reconhecer o passado nos conteúdos de memórias que persistem na atualidade pode contribuir para reflexões sobre o futuro que queremos para nossa vida em comum nos centros urbanos. Esse futuro deveria pensar a arquitetura de uma cidade compreendendo os usos e expectativas de seus moradores, de forma a garantir uma área urbana que preserve o bem estar de seus habitantes.


* A inauguração do Posto do SAPS  (Serviço de Alimentação da Previdência Social) ocorreu na Praça Governador Portela (jornal O Norte Fluminense, n. 500, 01/09/1957)

(atualizado em 31/03/2025)

                                       ***

Agradeço aos meus irmãos Claudia Bastos do Carmo e Gino Borges Bastos por suas pesquisas, que sempre contribuem com dicas preciosas para os estudos que tenho feito na área da memória local.

É permitida a reprodução do conteúdo deste blog em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Referências 

(1) LIMA, Bruno Avellar Alves; ZANIRATO, Silvia Helena. Uma revisão histórica da política habitacional brasileira e seus efeitos socioambientais na metrópole paulista. In: I Seminário Internacional de Pesquisa em Políticas Públicas e Desenvolvimento Social, Franca (SP), 2014.

(2) PALHAS, Ana Cristina Menezes. Os blocos de Niemeyer para o IAPB em Brasília: memória e preservação da SQS 108. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade de Brasília, Brasília, 2022.

(3) SOUZA, Edgar. O Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários e a habitação moderna brasileira: o caso do Edifício dos Bancários em Passo Fundo/RS. Cadernos PROARQ, UFRJ, 2021. Disponível em: https://cadernos.proarq.fau.ufrj.br/public/docs/Proarq36_10_Instituto%20de%20Aposentadoria_Junho2021.pdf Acesso 23/03/2025.

(4) BONDUKI; KOURY, 2014, p.179, apud PALHAS, 2022, p.41 (ref.2).

(5) FERREIRA, Marcílio Mendes.  GOROVITZ, Matheus. A invenção da superquadra, 2ª edição, Brasília, IPHAN, 2020. p. 52. Acesso 23/03/2025. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/ainvencaodasuperquadra2aed.pdf Acesso 25/03/2025.

(6) A Voz do Povo, Bom Jesus do Itabapoana, 16/02/1957.

(7) BONDUKI; KOURY, 2014, p., apud SOUZA, 2021, p.192 (ref.3)

(8) O Norte FluminenseBom Jesus do Itabapoana, 21/03/1957, n.47.

(9) A Voz do Povo, Bom Jesus do Itabapoana, 22/03/1957.

(10) O Norte Fluminense, Bom Jesus do Itabapoana, 11/08/1957, n. 498.

(11) O Fluminense, Niterói, 14/08/1957, n.22849.

(12) Jornal do BrasilRio de Janeiro, 14/08/1957, n.187.

(13) Diário Carioca, Rio de Janeiro, 16/08/1957, n.8924. 

(14) A visita histórica de João Goulart a Bom Jesus. Disponível em: https://onortefluminense.blogspot.com/2014/03/a-visita-historica-de-joao-goulart-bom.html Acesso 23/03/2025.

(15) As polêmicas sobre a foto da Rua República do Líbano. Disponível em: https://onortefluminense.blogspot.com/2015/07/as-polemicas-sobre-foto-da-rua.html Acesso 23/03/2025.

(16) Diário da Noite, Rio de Janeiro, 02/06/1958.

(17) A Voz do Povo, Bom Jesus do Itabapoana, 01/11/1958, n. 1204.

(18) O Norte Fluminense, Bom Jesus do Itabapoana, 03/05/1959, n.579.

(19) A Voz do Povo, Bom Jesus do Itabapoana, 09/07/1960.

(20) A Voz do Povo, Bom Jesus do Itabapoana, 22/08/1959.

(21) O Norte Fluminense, Bom Jesus do Itabapoana, 30/08/1959.

(22) A história do Cine Teatro Monte Líbano. Disponível em: https://onortefluminense.blogspot.com/2021/09/a-historia-do-cine-teatro-monte-libano.html Acesso 23/03/2025.

(23)  Praças Amaral Peixoto e Governador Portela: Bom Jesus do Itabapoana e seus centros históricos. Disponível em: https://espacoculturallucianobastos.blogspot.com/2021/05/pracas-amaral-peixoto-e-governador.html Acesso 23/03/2025.

(24) A Voz do Povo, Bom Jesus do Itabapoana, xx/12/1959.

(25) A Voz do Povo, Bom Jesus do Itabapoana, 27/02/1960.

(26) LETTIERI, Ana Paula Pereira de Campos. Breve descrição das fachadas do Hospital São Vicente de Paulo e Capela Nossa Senhora do Rosário. Disponível em: https://espacoculturallucianobastos.blogspot.com/2023/09/breve-descricao-das-fachadas-do.html Acesso 24/03/2025.



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