Figura 1: Capela anexa ao Hospital São vicente de Paulo (1) |
Considerando-se o período de sua construção, bem como algumas das características presentes na sua fachada principal e destacadas na Figura 1(*), a capela anexa ao Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) pode ser classificada como uma arquitetura pertencente ao estilo eclético, que consistiu em um movimento arquitetônico que emergiu na Europa no final do século XVIII e se configurava como uma revivescência de estilos anteriores, pertencentes a diferentes locais e épocas, aplicados em uma mesma obra (ALBERNAZ; LIMA, 1998). No Brasil, o ecletismo teve seu auge de meados século XIX até o início do século XX (ALBERNAZ; LIMA, 1998), de quando data a referida capela, assim como parte do hospital. Tais edificações contam, portanto, não só a história desta importante instituição para o município de Bom Jesus do Itabapoana, quanto de seu povo e, de forma mais ampla, do movimento eclético no país.
Na Figura 2, que apresenta a situação atual (agosto de 2023) da fachada da capela, nota-se que, de um modo geral, suas características originais se mantêm preservadas, no que tange ao seu volume e detalhes arquitetônicos. Nesse sentido, e em meio a um momento no qual o hospital tem passado por tantas mudanças em sua estrutura física em prol de um melhor atendimento da comunidade local e de outros locais da região, evidencia-se a importância de atuar por sua proteção contra eventuais descaracterizações.
Fonte: Fotografia do acervo Ana Paula Lettieri, 2023.
Do mesmo modo, o trecho da fachada do HSVP exposto pelas Figuras 3 e 4, voltado para a Rua Tenente José Teixeira, também pode ser considerado como pertencente ao estilo eclético.
Fonte: O Norte Fluminense (Figura 3) e Acervo Ricardo Teixeira (Facebook), com inserções textuais (Figura 4).
Apesar de atualmente (Figuras 5 e 6), sua volumetria e detalhes arquitetônicos também de manterem de forma baste semelhante à original, podem ser constatadas algumas interferências, como a inserção de placas e a troca de uma porta anteriormente existente na fachada por uma janela, tendo em vista não mais haver um acesso por ali.
Figura 5 |
Figura 6 |
Fonte: Fotografia do acervo Ana Paula Lettieri, 2022.
Para além das fachadas destas edificações em si, cabe ressaltar que uma série de alterações já foram executadas ao longo do tempo na área que compreende o afastamento frontal das mesmas, tanto do ponto de vista da topografia quanto do paisagismo e da sua funcionalidade. As figuras 7 a 9 ilustram a obra realizada recentemente, na qual foi removido um canteiro no qual havia um tratamento paisagístico com a presença de vegetação, de modo a ampliar a profundidade das vagas, antes dimensionadas para veículos de passeio e agora destinadas a ambulâncias. Tal modificação reflete uma clara necessidade do hospital decorrente de seu contexto atual de atendimentos, mas, também aponta para o risco de mudanças também nestas fachadas, diante de outras demandas que possam vir a se apresentar.
Figura 7. Estacionamento do HSVP em 2015. Fonte: imagem Google. |
Figura 8. Em obras em 2022 para remoção do canteiro e ampliação da profundidade das vagas. Fonte: Fotografia do acervo Ana Paula Lettieri, 2022. |
Figura 9. Obra concluída em 2022, com todas as vagas passando a ser exclusivas para ambulâncias. Fonte: Fotografia do acervo Ana Paula Lettieri, 2022. |
Vale destacar, ainda, o exemplo de outro trecho da fachada do
hospital (Figura 10), este voltado para a Avenida Fasbender, o qual se constituía
como uma evidente arquitetura do período modernista, possuindo um conjunto de elementos
clássicos do movimento e que, atualmente, encontra-se completamente
descaracterizada (Figuras 11 e 12), evidenciando uma tendência de modificação
das características originais do conjunto edificado como um todo.
Fonte: Fotografia do acervo Ricardo Teixeira (Facebook), com inserções textuais.
Conforme é possível notar nas Figuras 11 e 12, o pilotis existente no térreo foi completamente vedado, a partir da retirada dos cobogós e fechamento dos vão existentes. Parte dos volumes dos pilares cilíndricos restou apenas como um vestígio na fachada atual, registros do que outrora foi esse espaço. A maioria das esquadrias foi alterada, e a fachada passou a conter equipamentos de ar condicionado. Outros elementos foram acrescidos em frente à edificação – cilindros de gases medicinais, muros, uma cobertura sobre a rampa.
Fonte: Fotografia do acervo Ana Paula Lettieri, 2022.
É notório que o edifício hospitalar se configura como uma arquitetura em constante modificação, seja pelos avanços tecnológicos que proporcionam novos equipamentos, por inovações que possibilitam a concepção de espaços mais adequados ao suporte aos pacientes, por situações de emergência sanitária – como a recente pandemia de COVID-19, por ampliações ou reduções de atendimentos, dentre tantas outras demandas que precisam, inegavelmente, ser atendidas da forma mais eficiente e eficaz possível. Entretanto, há também que se considerar que o hospital é parte importante da comunidade local, de sua história e cultura, especialmente em cidades pequenas – como é o caso de Bom Jesus do Itabapoana, onde, muitas vezes, se torna uma referência na paisagem. Nesse sentido, cabe uma abordagem cuidadosa, que alie a boa resolução das necessidades que se impõem, com a preservação de elementos de importância histórica e cultural e a compreensão do impacto das alterações procedidas não só do edifício para dentro, mas na sua relação com a paisagem do entorno e com a comunidade.
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(*) Ana Paula é Arquiteta (Instituto Federal Fluminense - IFF), Mestre em Planejamento Regional e Gestão de Cidades (UCAM), Doutoranda em Arquitetura (PROARQ-UFRJ), Professora de Arquitetura e Urbanismo do IFF Campus Campos-Centro, Pesquisadora do Núcleo APPA (Ateliê de Pesquisas da Paisagem).
(1) Capela anexa ao Hospital São Vicente de Paulo em fotografia histórica. Fonte: Fotografia do acervo Ricardo Teixeira (Facebook), com inserções textuais.
Agradecemos à autora pelo texto, gentilmente preparado a pedido.
REFERÊNCIA
ALBERNAZ, Maria Paula; LIMA, Cecília Modesto. Dicionário ilustrado de arquitetura: Volume I – A a I. São Paulo: ProEditores, 1998.
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Confira mais publicação da autora sobre o Hospital São Vicente de Paulo:
LETTIERI, Ana Paula Pereira de Campos; REGO, Andreia Queiroz. Covid-19 e transformações na paisagem: o Hospital São Vicente de Paulo, Bom Jesus do Itabapoana/RJ. Paisagens Híbridas, v.3, n.1, p.92-123, 2003. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ph/article/view/57554
Confira mais sobre o Hospital São Vicente de Paulo neste blog:
http://espacoculturallucianobastos.blogspot.com/2023/09/hospital-sao-vicente-de-paulo-e-capela.html
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