O poder das mãos na cerâmica da Usina Santa Maria

Paula B. Bastos

Trabalhar o barro. Trabalhar a terra. Captar a natureza na fina percepção do intuitivo, através das mãos humanas que modelam, transformam e produzem formas variadas de grande valor estético. Esse é o trabalho que vem sendo desenvolvido na Usina Santa Maria, por um grupo de artesãos do barro sob coordenação da Sra. Neli Barbosa, com patrocínio da Petrobras e sob a batuta do mestre artesão Daniel de Lima.

Quem visitar a exposição que se encontra no ECLB vai ter contato com um artesanato de rica expressão artística, que bem poderia estar adornando qualquer loja de nossas grandes metrópoles, representando a diversidade cultural brasileira.

Em tempos de produção em massa, em que a ordem se traduz em homogeneidade e descarte rápido dos produtos "made in China", é um deleite perceber a brasilidade exposta nesse trabalho artesanal, de mãos e mentes que se entregam ao fazer único de peças exclusivas em um recanto de nossa terra bonjesuense. No trabalho calmo e singelo desses artesãos se revela a força pulsante de nossa cultura, o orgulho de nossas raízes.

Reflexões sobre transformações sociais por que tem passado o campo brasileiro nas últimas décadas se apresentam no instigante quadro de um carro de boi inacabado, rodeado de animais deitados, dispersos, perdidos em seu labor agora considerado "inútil". Artesanato-reflexão.

E não pude deixar de me lembrar de "A trilogia das mãos", do escritor português Mário Claudio, cuja narrativa, ao cantar as mãos de uma ceramista, Rosa Ramalha, assim declara: "Há uma potência que reside na terra, de natureza definida pelos membros que a compõem. Viver com ela é estar aí, na inteireza do ser que a preenche, de sentido desperto para seu oculto recado".

Despertar o sentido da terra, perceber seus recados. Essa a missão dos ceramistas da Usina Santa Maria. A nós, cabe a leitura e interpretação das mensagens, orgulhosos dessa cultura que floresce em Bom Jesus nesse aprazível recanto.